8 de fevereiro de 2016

RESENHA | Fantasmas do Século XX — Joe Hill

Título: Fantasmas do Século XX
Título Original: 20th Century Ghosts
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Páginas: 288
Lançamento: 2008
Onde comprar: Esgotado!

Sinopse:
"Joe Hill é uma das vozes mais firmes e seguras da nova ficção de terror e fantasia surgidas nos últimos anos." - Publishers Weekly
Fantasmas do século XX é muito mais do que um livro – é uma experiência sensorial assustadora e atraente.

Autor de A Estrada da Noite, Joe Hill criou 17 histórias de suspense, drama, terror e fantasia norteadas pelo mesmo tema: a vulnerabilidade e a solidão humanas.

Dotado de uma incrível capacidade de narrar cenas perturbadoras com naturalidade e sutileza, Hill arrasta o leitor para dentro de suas tramas, tornando-o cúmplice delas.

Guiado pelas influências do clássico cinema de terror, da ficção científica e dos grandes mestres da literatura de horror, Hill imprime em seus textos um humor sombrio e uma suavidade que contrasta com a complexidade das histórias – o que reforça sua habilidade de surpreender a cada página.

Como um thriller psicológico dividido em pequenos capítulos, é impossível parar de ler este livro antes de chegar ao último conto – desde que você não esteja sozinho em casa.

Opinião:

Uma curiosidade: esse livro me chamou da prateleira de um hipermercado! Por que digo isso? Vou explicar: Em 2013 comprei e li A Estrada da Noite e O Pacto (ou Amaldiçoado, seu novo título nacional devido ao filme) do Joe Hill e imediatamente o autor entrou para a lista dos meus autores favoritos. Descobri na época que havia um livro de contos dele chamado Fantasmas do Século XX e foi um dos primeiros a ser colocado na minha lista de desejados do Skoob. Pesquisei em livrarias, lojas online, sebos virtuais e em nenhum lugar eu encontrei o livro. No site da Editora Arqueiro ele constava, e até hoje consta, como esgotado. Mandei dois e-mails para eles durante esse tempo, e em ambas as respostas eles disseram que não tem previsão de uma nova tiragem ou lançamento de outra edição. Ou seja, eu teria que me contentar em ficar sem o livro. O tempo foi passando... e em janeiro desse ano viajei para São Paulo. Quase no último dia de viagem fui com um primo num hipermercado do Carrefour na Zona Sul e como sempre faço, fui na seção dos livros. Não encontrei nada a princípio, mas quando voltei pelo corredor, olhei de novo para os livros e vi atrás de alguns livros para colorir uma beiradinha vermelha, eu fui lá, puxei e... tcharammm! Era o livro Fantasmas do Século XX. Eu não perdi tempo, peguei logo e independente de qual fosse o valor eu levaria, mas estava apenas R$19,90, então sorte minha. Como um fantasma ele havia se escondido de mim, mas algo me chamou atenção naquela prateleira de livros para colorir e eu o encontrei! \o/

Deixando de lado a origem do meu livro, eu devo dizer que essa coletânea de contos é também uma coletânea de talento, de imaginação e de mistério! Joseph Hillstrom King, ou apenas Joe Hill, é para mim, assim como é seu pai Stephen King, um mestre do terror. Hill tem uma escrita ainda mais contagiante que a de seu pai, é ágil e sem preocupações, o que me agrada muito.
“Uma nova gota vermelha escorria de sua narina esquerda e seus lábios estavam sujos de sangue, mas a essa altura a atenção de Alec já se voltava para outra coisa. Os dois estavam sentados bem debaixo do facho do projetor, e insetos rodopiavam através da coluna de luz azul acima deles. Uma mariposa branca havia pousado no rosto dela. Subia pela sua bochecha, mas ela não reparou. Alec não comentou nada. O ar que tinha no peito não era suficiente para falar.” — FANTASMA DO SÉCULO XX, Pág. 38
FANTASMAS DO SÉCULO XX
O livro é composto por muitos contos e, mesmo eu tendo gostado muito da maioria deles, eu vou registrar aqui um pouco dos que eu mais gostei:

O MELHOR DO NOVO HORROR: Eddie Carrol é um cara apaixonado por boas histórias de terror. Ele organiza uma decadente coletânea anual chamada O Melhor do Novo Horror, só que há muito tempo ele não encontra narrativas diferentes, sempre é o mesmo clichê de sempre. Até que ele recebe a história de “ButtonBoy”, que já tinha sido publicada numa pequena revista universitária e que causou terror e repulsa pela perversidade da escrita. Ele ao contrário dos leitores da revista, amou tudo aquilo. Ele quer mais que tudo publicar o conto em sua coletânea e precisa contatar o autor para tal, só que aparentemente ele sumiu do mapa. Eddie parte numa caçada em busca do autor e acaba vivendo um verdadeiro conto de terror. Ele conseguirá encontra-lo?
“Alec tornou a se virar para a garota, e ela agora estava afundada na poltrona. Tinha a cabeça caída sobre o ombro esquerdo. Suas pernas estavam abertas em uma pose lasciva. Grossos filetes de sangue, secos e rachados, saíam de suas narinas, emoldurando sua boca de lábios finos. Seus olhos estavam revirados nas órbitas. Em seu colo havia um saquinho de pipoca esparramado.” — FANTASMA DO SÉCULO XX, Pág. 38
POP ART: Um garoto conta sua história e a de como foi ser amigo de Arthur Roth, ou apenas Art, um menino inflável que era branco, judeu, não falava, só escrevia bilhetes com giz de cera pois não podia se aproximar de objetos pontiagudos. Esse conto não apresenta nem um pouco de terror, é mais um drama sobre a amizade de um humano com um garoto balão. Mas é um dos contos mais loucos que já li e foi incrível o que Joe Hill conseguiu transmitir com uma coisa tão surreal. Eu encontrei o curta metragem desse conto no YouTube, que pode ser assistido com legendas em espanhol, ele foi dividido em duas partes: Pop Art 1 e Pop Art 2.
POP ART
VOCÊS IRÃO OUVIR O CANTO DO GAFANHOTO: Francis Kay acorda e descobre que virou um inseto, um gafanhoto de 1,50m. Ele conta que para se popularizar na escola comia insetos, de baratas a moscas e formigas, o que levava seus colegas à loucura por tamanha coragem e estranheza. Ele se pergunta se essa é a razão dele estar se transformando num gafanhoto, mas se lembra que viu algumas explosões a noite e que aquilo pode ter causado as mutações em seu corpo. A partir daí, só basta a ele aproveitar a vida no corpo de um inseto. Esse conto tem descrições repulsivamente fortes! Mas é ótimo!
“[...] Francis comia as baratas que lhe traziam. Enfiava mariposas com lindas asas verde-claras na boca e mastigava devagar. As crianças lhe perguntavam o que ele estava sentindo e ele dizia “Estou sentindo fome”. Quando perguntavam que gosto tinha, ele respondia “Parece o gramado da casa de alguém”. [...]” — VOCÊS IRÃO OUVIR O CANTO DO GAFANHOTO, Pág. 71/72   
VOCÊS IRÃO OUVIR O CANTO DO GAFANHOTO
ÚLTIMO SUSPIRO: Alinger é um velho de 80 anos, alto e magro. Não bastasse sua aparência fantasmagórica, ele possui uma curiosa coleção, diferente de tudo que qualquer outra pessoa já colecionou, ele coleciona últimos suspiros: o silêncio que vem após a morte. Esse conto é um dos meus favoritos.
“— Espere. Existem muitos tipos diferentes de silêncio. O silêncio dentro de uma concha do mar. O silêncio depois de um tiro. O último suspiro dele ainda está aí dentro. Os seus ouvidos precisam de tempo para se acostumar. Daqui a pouco você vai conseguir escutar. O silêncio particular dele.” — ÚLTIMO SUSPIRO, Pág. 181
ÚLTIMO SUSPIRO
A MASCARA DO MEU PAI: Jack viaja com seus pais para um chalé que pertencia ao seu avô, que havia falecido recentemente, afim de vender alguns objetos que receberam de herança. Chegando lá ele se depara com uma casa antiga em que todos os espelhos estão cobertos e várias máscaras estão em todos os lugares. Por mais que o menino já esteja com 13 anos, sua mãe diz a ele que deve usar a máscara para se proteger das pessoas-carta-de-baralho que o seguiam (cá entre nós, ela é um pouco pirada). O conto possui um horror infantil, surreal, uma mistura das fantasias vividas nos sonhos. É um conto a lá Neil Gaiman.
A MASCARA DO MEU PAI
INTERNAÇÃO VOLUNTÁRIA: O velho Nolan conta uma história de seu passado, sobre seu amigo Eddie e seu irmão Morris que tinha problemas mentais. Morris construía fortes e túneis com caixas de papelão, que dizia transportarem para outros mundos. Eddie e Morris estão desaparecidos e ambos entraram nos túneis feitos de caixas de papelão. Que mistérios envolvem essas caixas? O conto é bem fantasioso mas ao mesmo tempo é realístico, é complicado explicar o que ele passa, mas vale a pena ser desvendado.
INTERNAÇÃO VOLUNTÁRIA
“Fico olhando para o rosto do homem e, como nas histórias em quadrinhos, estrou tremendo de terror. Um leve movimento atrai meu olhar. Vejo uma mosca andando por seu lábio superior. O corpo da mosca cintila como metal. O inseto para no canto de sua boca, depois entra lá e desaparece, e ele não acorda.” — MELHOR DO QUE LÁ EM CASA, Pág. 119
Além desses contos, há muitos outros que merecem destaque como o FANTASMA DO SÉCULO XX, que dá nome ao livro e conta a história de um cinema em decadência devido a aparição de uma garota fantasma; OS MENINOS DE ABRAHAN, que narra as aventuras dos dois filhos de Van Helsing, o caçador de vampiros; O TELEFONE PRETO em que um garoto é sequestrado por um homem que diz ser um palhaço quando é confrontado sobre os balões negros que saem de seu carro; A CAPA, em que há uma capa no estilo super herói que deixa a pessoa levitando e que sempre trás alguma tragédia quando alguém a está usando; e o cômico BOBBY CONROY VOLTA DOS MORTOS, que se passa num velho shopping que está sendo usado como estúdio para a gravação de “Despertar dos Mortos” de George Romero.
A CAPA
As ilustrações usadas na resenha são do artista Vinny Chong, que ilustrou uma edição comemorativa. Foram poucos os contos que eu não gostei, mas levando-se em conta o conjunto, eu avaliei o livro em
Uma boa notícia para os fãs e apreciadores dos livros do Joe Hill: está previsto para 17 de maio de 2016 a publicação de The Fireman nos EUA. Torcemos para que a Editora Arqueiro publique ainda esse ano o livro aqui no Brasil, mas enquanto ele não sai, eu preciso ler Nosferatu, que é seu último livro lançado. Aceito de presente!

6 comentários:

  1. Meu Deus. Preciso deste livro!
    Estou louco para ler A Estrada da Noite. Espero conseguir ler em Fevereiro. Adorei sua resenha.
    Abraços
    Blog do Ben Oliveira

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    1. Olá Ben!

      A Estrada da Noite é muito bom, mas O Pacto é ótimo. Ainda não li Nosferatu que aparentemente é o melhor do autor até o momento.
      Muito Obrigado,

      Abração

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  2. Fiquei arrepiada pela nostalgia ao ler sua resenha hahaha Fantasmas do Século XX é um dos meus livros favoritos, ele tem contos que levarei para a minha vida toda (como Internação Voluntária e Pop Art).
    Algo que acho bem legal é que os contos são impregaaaados de referências! Eu li o livro há muitos anos atrás (acho que uns 5), e não me lembro mais exatamente de quais eu havia percebido, mas pela sua resenha lembrei sobre Vocês Irão Ouvir o Canto do Gafanhoto, que é uma releitura moderna de A Metamorfose, e A Máscara de Meu Pai, que tem muuuitas influências dos livros da Alice. Queria lembrar das influências dos outros contos, mas minha memória é fraca hahahah

    Abraço!
    http://magoevidro.blogspot.com.br

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    1. \o/ Oi Tisa!
      Muito feliz por seu comentário. Obrigado pelas palavras.
      Sim, eu acabei me esquecendo de falar das referencias, mas notei as que eu já conhecia, A Máscara de Meu Pai eu disse que lembrava de Neil Gaiman, mas certamente me lembrei de Alice, não pelo livro, pois nunca li, mas pela versão do Tim Burton mesmo. Mas esse livro é ótimo!

      Abraços

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  3. Não tenho palavras pra descrever o conto Pop Art, que coisa estupenda.

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    1. É realmente sensacional Luccas!
      Joe Hill é um excelente contista e romancista.
      Abraços

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