30 de janeiro de 2016

RESENHA | Dias Perfeitos — Raphael Montes

Título: Dias Perfeitos
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280
Lançamento: 2014
Onde comprar: Buscapé

Sinopse:

Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.

Opinião:

Essa sinopse grita aos leitores, evoca a leitura, não dá para não se render.

Não podia ser diferente. Muito marketing foi feito para divulgar livro e autor. Raphael Montes se tornou um nome reconhecido dentro e fora do país. Seu sucesso teve início, com o lançamento de seu primeiro livro, Suicidas, que ganhou diversos prêmios no Brasil e colocou o talento do autor nas prateleiras de todo o país, e até fora dele. Eu sempre lia e ouvia seu nome na mídia, meus amigos me indicavam, e isso fez despertar cada vez mais a minha curiosidade e vontade de ler seus livros. Comprei Dias Perfeitos, li e agora posso confirmar as tão boas críticas.

O livro tem início numa aula de anatomia, Téo, um estudante de medicina, está mais uma vez imerso em seus devaneios, conversando com sua amiga, contando seus segredos, tentando compreender a vida dela e a sua. Ela está parada, deitada a sua frente, rígida, gelada, morta. Sua melhor amiga é um cadáver, Gertrudes foi o nome que deu a ela, a única pessoa que o entendia de verdade.
“[...] Quando criança, passava noites sem dormir, as mãos trêmulas diante dos olhos, tentando desvendar os próprios pensamentos. Sentia-se um monstro. Não gostava de ninguém, não nutria nenhum afeto para sentir saudades: simplesmente vivia. Pessoas apareciam e ele era obrigado a conviver com elas. Pior: era obrigado a gostar delas, mostrar afeto. Não importava sua indiferença desde que a encenação parecesse legítima, o que tornava tudo mais fácil.” — Pág. 12
Téo sempre foi fechado, não gosta de conviver com as pessoas, prefere viver em seu mundo particular. É vegetariano, não bebe, não fuma e não gosta de socializar... mas um dia tem que acompanhar sua mãe num churrasco; pessoas estão por toda parte, o funk carioca está sendo tocado a todo volume, ele resolve fugir do movimento e da música e se afasta, porém é seguido por Clarice. Eles conversam por um tempo e ali surge algo que, na mente de Téo, se confunde com sentimento, mas que não passa de um desejo, uma obsessão.
“Ele não havia acreditado. Não supunha que fosse ser feliz um dia. Sentia-se fadado ao limbo, à monótona rotina, desprovida de momentos felizes ou tristes. Sua vida era apenas um vazio preenchido por tímidas emoções. Seguia bem assim.” — Pág. 15
É aí que começa o desenrolar dessa novela doentia. Perseguição, sequestro, morte... uma história repleta de “amor” e ódio, de carinho e dor, uma história repleta de mentiras. Um livro com diálogos e ações inteligentes, que retratam uma discussão psicológica entre os protagonistas. Reviravoltas e voltas reviradas a todo instante, não dá para prever o próximo passo. Uma Clarice, uma mala... um desejo, uma doença...
“O corpo [...] estremeceu quando a faca entrou na altura da garganta. Numa descida vertical, a pele — ainda quente — se abria com maciez, deixando um sulco atrás da faca. Téo foi devolvido à sala de anatomia, aos momentos com Gertrudes, aos prazeres da dissecação. Visitando cada parte do cadáver, revia os livros que havia estudado. Ilustrações se tornavam em realidade.” — Pág. 113
Raphael tem o domínio não só da escrita, mas também do suspense. Sabe dosar e aplicar um bom mistério nas veias. Costura a trama como um médico fecha seu paciente após uma cirurgia, ponto a ponto, até não haver onde escapar seu sangue. Sua narrativa tem a qualidade de muitos mestres da literatura estrangeira, chega a viciar, e por mais que eu tenha lido apenas esse livro do autor, ele já despertou em mim um “sentimento” (ou seria uma obsessão?), pois quero ter e ler todos os seus livros. O livro recebe 
“Quando um homem tem tanta vergonha de si mesmo e se vê desmascarado, não restam muitos caminhos, Clarice. O suicídio é a única saída.” — Pág. 94
BookTrailer:
Se você já leu algum livro do autor deixe suas percepções aí nos comentários, se ainda não leu, não perca seu tempo, compre, empreste, mas leia logo Dias Perfeitos!

7 comentários:

  1. Olá Thalita,
    Muito Obrigado, tbm quero ler os outros do autor.
    Bjs

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  2. Conheço Raphael Monte por conta de "O Vilarejo", mas estou com muita vontade de ler esse livro do autor, o qual por sinal, realmente está levando a literatura nacional a níveis altíssimos.
    Abraços e que a Força esteja com você!
    http://www.paradageek.com/

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    1. Olá Mateus,
      Ele me deu muitas expectativas pelos próximos, espero não me desapontar, mas se for levar em conta a voz do povo, Suicidas e O Vilarejo são tão bons quanto.
      Abraços!

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  3. Uau! To muito impressionada com a sinopse do livro e a sua resenha! Ouvi falar do Rapahel Mones pela primeira vez em uma resenha de "O Vilarejo", e não conhecia "Os suicidas" nem "Dias perfeitos". O livro parece ser daquele tipo que você não consegue parar de ler! Mas acho que vou precisar me preparar psicologicamente, porque sou do tipo que passa mal vendo sangue! kkkk

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    1. Haha! Se prepare então Lethycia!
      Raphael escreve muito bem, realmente tem talento. Fico feliz que tenha gostado da resenha e que a mesma te influenciou para sair da sua zona de conforto. Leia e volte aqui para contar o que achou.
      Abraços

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  4. n curti o vilarejo. deu vontade de ler esse. parabéns pela resenha e empenho de escrever sobre livros. ainda mais no Brasil

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    1. Olá Danillo!
      Ainda não li O Vilarejo, mas pretendo o fazer em breve. Esse livro me surpreendeu bastante. Já havia lido inúmeros comentários positivos e eu acabei gostando muito também. Um outro dele muito falado é Suicidas, também não li, mas assim que eu conseguir o livro pretendo resenhar aqui.
      Abraços

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